sexta-feira, 26 de outubro de 2012

0 que motiva alguns seres humanos a demonstrar atos de compaixão?










O Jornal Folha de S. Paulo publicou um artigo que remete a uma reflexão interessante: 0 que motiva alguns seres humanos a demonstrar atos de compaixão?

0 título do texto, de autoria de um escritor britânico, é sugestivo: “Mistérios do bom e do mau – o que entendemos como compaixão e altruísmo pode ser apenas uma civilizada e racional mostra de egoísmo”. Em síntese, ficam claras as concepções que o autor irá defender.

Segundo o artigo, certo intelectual foi interrogado se o casamento é uma instituição natural. A resposta revela um pessimismo surpreendente: “Meu senhor, um homem e uma mulher selvagens encontram-se por acaso, mas tão logo o homem veja uma mulher que lhe agrade mais, ele não hesitará em abandonar a primeira.” Dessa forma, a fidelidade não é uma condição inerente ao ser humano, mas resultado de imposições sociais que reprimem seus verdadeiros e mais profundos desejos.

Esse pensamento é perfeitamente aplicável a qualquer situação que exija ética e bom-senso. Atos de compaixão, nesse sentido, são características aperfeiçoadas pela razão, em resposta ao que é exigido pelo viver bem em sociedade.

O ser humano é visto, assim, como egoísta. Qualquer atitude de bondade é resultado de um interesse próprio de quem a realiza. Por detrás do altruísmo, existe o desejo de se ganhar alguma vantagem.

Thomas Hobbes, filósofo do século XVII, confirma esse pensamento em sua célebre obra: “Leviatã” (1651). Sua observação da vida social revela que o homem em sociedade é dominado pelo amor-próprio, pela vaidade, pela vanglória, pelo desejo de levar vantagem e de fazer reconhecer sua superioridade. Blaise Pascal, nessa mesma época, afirma que todos os homens se detestam naturalmente. Adam Smith, economista do século XVIII, diz que o interesse individual é o motor das ações humanas.

Forma-se, diante dos cristãos, um quadro tenebroso. Será que a idéia de um Deus que assumiu a forma humana por amar o homem é válida? E quanto aos discípulos de Jesus? Serão seus atos de bondade resultado de um egoísmo exacerbado?

Todo esse pessimismo revelado por intelectuais em várias épocas tem
sua razão de ser. Vivemos num mundo maligno. As intenções que movem as pessoas são de fato egoístas. No entanto, em suas análises sobre a condição humana, esses filósofos negam a realidade do poder de Deus para transformar a vida dos indivíduos, levando-os gradualmente de um estado de barbárie para um estado de harmonia com os que os cercam.

Na cosmovisão bíblica, o mundo está imerso numa constante decadência moral, resultado do pecado que impera na vida das pessoas. Nesse sentido, a natureza humana é egoísta e má, pondo em evidência só o que é favorável a si própria. Isso é claro no momento em que Jesus revelou aos discípulos o que haveria de passar nas mãos dos líderes judeus. Então Pedro “tomou-o de parte e começou a repreendê-lo, dizendo: ‘Senhor, tem compaixão de Ti. Isso de modo algum Te acontecerá.’” Pedro queria que o Mestre pensasse em Si mesmo; na manutenção de Seu interesse. Era assim que as coisas funcionavam para Pedro. Mas, de imediato, ouviu uma dura repreensão.

Jesus foi movido pelo Seu profundo amor ao ser humano. Negou-se a Si próprio, para abrir um caminho reto aos que nEle confiam. “Cristo foi tratado como nós merecíamos, para que pudéssemos receber o tratamento a que Ele tinha direito. Foi condenado pelos nossos pecados, nos quais não tinha participação, para que fôssemos justificados por Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a morte que nos cabia, para que recebêssemos a vida que a Ele pertencia.” – O Desejado de Todas as Nações, pág. 21. 0 ato salvador de Jesus é um desafio a todo ser humano. Todos são convidados a entregar a vida a Ele, para que se tornem sensíveis à influência transformadora do Espírito Santo. Aos poucos, o homem vai sendo transformado, tomando-se “revestido de compaixão” (Col. 4:15). Não uma compaixão que visa ao interesse próprio, mas uma sincera preocupação em ver o bem-estar do outro. Atos de misericórdia e amor requerem genuína conversão da mente e do coração.

Reconhecendo o interesse e as provisões de Deus para nosso bem-estar, podemos deixar de lado a “teoria egoísta” dos filósofos. Sejamos otimistas para confiar na transformação que o Senhor pode operar em nós, tomando sinceros atos de misericórdia uma realidade concreta em nossa vida e na de nossos semelhantes.

Ubirajara de Farias Prestes, publicado na RA de Fev/1998.

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