quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Jabuticabas


Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas.As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.Não tolero gabolices.Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para Discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos...

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos à limpo".Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a "última hora"; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus.Caminhar perto delas nunca será perda de tempo.

OBS: tenho até muitas jabuticabas na minha bacia, para dividir com quem dê valor. 

(desconheço o autor)

Um comentário:

  1. Olá Vera Mattos,

    Já conhecia este texto há muitos anos e já tinha esta percepção de que já vivi mais anos do que aqueles que ainda tenho para viver.

    Talvez por isso, por ter apreendido essa mensagem, tente fazer da Vida um prazer constante, onde cada instante de lazer é saboreado ao limite.

    Não são muitos esses momentos, por força do trabalho que nos absorve grande parte do tempo, mas tento que sejam todos bem aproveitados.

    Um abraço e até sempre,

    José Gonçalves
    (Guimarães)

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